segunda-feira, 31 de julho de 2017

(Continuação 21) - Actualização em 14/03/2019



Igreja de S. Francisco, à esquerda, em meados do século XIX


A actual Rua do Infante D. Henrique foi inicialmente chamada Rua Formosa ou Fermosa por D. João I, Rua Nova, Rua Nova de S. Nicolau (em 1788), Rua Nova dos Ingleses (até 1883), Rua dos Ingleses (até 1890). Deixou de ser Rua dos Ingleses em 1890 como reacção de toda a cidade contra a nação inglesa pelo Ultimato.
Na gravura acima pode ver-se a saída do Viático (administração da comunhão aos moribundos, católicos) para assistir a um doente, e o povo ajoelhado, a capela do Senhor dos Passos ainda existente do lado Sul do Convento, o Paço Episcopal não totalmente recuperado das destruições provocadas pelos miguelistas durante o Cerco do Porto e, ainda, a Sé com o relógio entre as torres.



Eugénio Andreia da Cunha Freitas escreve: “Entre os anos 1395 e 1405, mandou El-Rei D. João I, o de Boa Memória, abrir uma nova artéria, para enobrecimento da cidade a que tanto queria e onde nascera seu filho Infante D. Henrique”.


Rua Formosa lhe chamou o monarca, “a minha Rua Formosa”… pouco depois começou a denominar-se Rua Nova, tirando o topónimo a outra Rua Nova que de então para cá se passou a chamar, Rua Escura.
Mas teve outros nomes, a Rua Escura. Chamou-se, por exemplo, Rua do Ferro e Rua de Nossa Senhora do Ferro, por aí ficar a capela de Nossa Senhora do Ferro.
A referência mais antiga à Rua Nova, que ficava junto à Sé, vem num documento do cabido portucalense de 1301: "no fim da Rua Escura que antes se chamava Rua Nova".
Durante muito tempo a rua conservou as duas designações de Rua Formosa e Rua Nova.
Concentrando-se em volta da Feitoria Inglesa, com construção iniciada em 1785, o principal comércio portuense, realizado então com negociantes britânicos, passou a rua a denominar-se Rua Nova dos Ingleses, designação que tinha já em 1794, depois só Rua dos Ingleses.
Na Rua Nova, de D. João I, ergueram-se as mais nobres casas da cidade daquele tem­po, e nelas viveram as mais importantes fa­mílias do Porto.
Nesta rua, funcionou, no século XV, a antiga Bolsa dos Mercadores, num edifício que lhes foi cedido por D. João I, para aí ser instalada a primeira Bolsa do Comércio do Porto. Ainda, hoje, se podem ver as armas de Avis numa das suas paredes.
Uma outra associação de mercadores instituída por D. Dinis, alguns anos antes, começou por funcionar como uma espécie de seguro marítimo destinado a cobrir os riscos de naufrágio, incêndio ou acção da pirataria, então muito activo, nos mares do Norte, viria a ser o embrião da Bolsa de Mercadores instituída por D. João I.
O edifício da Bolsa de Mercadores, que haveria de ser reconstruído, na época de D. Afonso V, dava também acesso à Casa da Moeda. 




Bolsa de Mercadores do Porto



No século XVII, havia no começo da rua um cruzeiro, a que chamavam o Padrão de S. Francisco, por ficar perto do mosteiro dos franciscanos, à entrada da Rua das Congostas, já desaparecida.
O nome de Rua dos Ingleses prevaleceu até 1890, até ao Ultimato inglês.
A esta rua que era a de maior comércio no séc. XIX, convergiam duas importantes artérias do Porto antigo: a Rua da Alfândega Velha (rua que desce da Rua do Infante para o cais e casa do Almazém) que é a conhecida Rua da Alfândega; e a Rua de S. João que começou por se chamar Rua Nova de S. João. O nome de S. João foi-lhe dado, segundo se crê, em homenagem a João de Almada.
Entretanto, muitas outras ruas desapareceram nas imediações, e algumas com nomes bem curiosos, como: Vale das Pegas, Calca Frades, Congostas, Oliveiras, Ourivesaria, Forno Velho, Rossio d'El Rei, e tantos outros.



Rua Nova dos Ingleses


Rua Nova dos Ingleses, gravura de 1834, do Barão de Forrester


Na gravura acima, pode ver-se que antes da construção do Palácio da Bolsa os negócios, com estrangeiros, especialmente ingleses, eram realizados a céu aberto.


Rua Nova dos Ingleses em 1861


Da gravura acima se conclui que o prédio ao fundo desalinhado ainda existe e, à esquerda, é visível a entrada da Rua das Congostas.


Gravura de T. M. Johnson de 1893, In “O Porto das luzes ao liberalismo”-  Francisco Ribeiro da Silva 



Na gravura acima a Rua do Infante D. Henrique, antes, Rua dos Ingleses, com S. Francisco ao fundo já comunica directamente com a Rua Nova da Alfândega.



Rua do Infante D. Henrique – Fonte: Arquivo Histórico Municipal



Na foto acima a Rua do Infante D. Henrique antes do levantamento da praça com o mesmo nome. De notar as fileiras laterais de árvores.
Nela se vê, também, que a rua se encontrava completamente ocupada por edifícios, alguns ao estilo dos que ainda lá se encontram, mas com uma notável diferença: os primeiros que estão à esquerda da foto foram demolidos c. 1883 para dar lugar ao Jardim do Infante.





Início da Rua das Congostas, à esquerda (ampliação da foto anterior)


Na ampliação acima, à esquerda, após a primeira carruagem, vê-se o início da Rua das Congostas.


Vista actual das fotos anteriores já com o Jardim do Infante - Fonte: Google Maps



Descarga na Ribeira da 1ª pedra vinda de Sagres para o monumento ao Infante D. Henrique


Lançamento da 1ª pedra do monumento ao Infante D. Henrique


Em 4 de Março de 1894, com a presença de D. Carlos e D. Amélia foi lançada a 1ª pedra do monumento ao Infante D. Henrique, após ter sido benzida pelo Cardeal D. Américo.
À cerimónia assistiram mais de 100.000 pessoas.





Praça do Infante D. Henrique


Na foto acima vê-se o pedestal do monumento ao Infante D. Henrique, mas, ainda sem todas as peças em bronze, pelo que deve ser de 1900 ou do ano anterior.
As palmeiras que se veem na foto, que chegaram a ser dezoito, e que rodeavam a estátua do Infante D. Henrique, seriam cortadas em 28 de Janeiro de 1957 para se poder observar melhor a estátua do Infante e o Mercado da Fruta, Ferreira Borges.



O Infante D. Henrique


O monumento ao Infante D. Henrique do escultor Tomás Costa foi inaugurado em Outubro de 1900 pelo Rei D. Carlos I e D. Amélia.



Carros de bois fazendo os transportes entre a Ribeira e a alta da cidade pela Rua de Mouzinho da Silveira






Vista actual da foto anterior – Fonte: Google maps


Rua do Infante D. Henrique – Fonte: Arquivo Histórico Municipal, CMP


Na foto acima, de 1900, vê-se a entrada da Rua da Reboleira.



Túnel da Ribeira
 
 
Este túnel rodoviário, concebido pelo engenheiro Bernardo Ferrão, que terá sido o primeiro do País, foi inaugurado em 1952 pelo então Presidente da República, general Craveiro Lopes, em 28 de Maio, no mesmo dia em que foi inaugurado o antigo estádio das Antas, o Bairro de Pescadores da Afurada e a ponte da Foz do Sousa.
O túnel, com 200 metros de comprimento e 15 de largura, tinha sido começado a construir em 1947, tendo passado a fazer a ligação entre a saída do tabuleiro inferior da ponte Luis I e a Rua do Infante D. Henrique e foi construído na sequência da aplicação do Plano Regulador do Porto e concretizou algumas das ideias do engenheiro Ezequiel de Campos e de Barry Parker (o arquitecto inglês contratado pela Câmara para estudar diversos projectos para a cidade, entre os quais a Avenida dos Aliados).
A sua construção deu origem a alguns contratempos, como seja o de ter provocado a derrocada de parte da capela do Ferro, situada na encosta que lhe fica acima e, ainda, ter provocado aluimentos que danificaram o túnel do ramal ferroviário de ligação de Campanhã à antiga estação da Alfândega, que lhe ficaria subjacente.
Notícias da imprensa, de 1949, dizem que os trabalhos chegaram a colocar em perigo a integridade do edifício do “Seminário Maior",
 
 
 

Rua do Infante D. Henrique
 
 
Os prédios observados na foto acima, a meio, viriam a ser demolidos para a abertura do Túnel da Ribeira.

 
 
Abertura do Túnel da Ribeira, do lado nascente, à saída da ponte


 
 

Túnel da Ribeira
 
 
 
Desde a inauguração, na frontaria granítica da entrada (nascente) ficou um rectângulo que diziam destinado a um baixo-relevo escultórico.
Finalmente, em 2015, o espaço foi ocupado por um painel de azulejos, cujo desenho é da autoria de Fernando Lanhas, oferecido pelos seus herdeiros aos portuenses, denominado “À Cidade”.
 
 
“A obra é uma ampliação de um quadro a óleo que o artista realizou em 1993, pintado sobre azulejo por Jorge Parracho e executado em 2012 na Cooperativa Árvore sob orientação do ceramista Pedro Gil.
O painel é constituído por 875 azulejos em base cerâmica, dispostos em 35 fiadas na vertical e 25 na horizontal, com as dimensões totais de 700cmx500cm.”
Fonte: “porto.pt/”

 
 

Painel de Fernando Lanhas na entrada nascente do Túnel da Ribeira
 
 
 
Um outro painel de azulejos, denominado “Ribeira Negra”, tinha sido inaugurado em 21 de Junho de 1987, na mesma entrada do Túnel da Ribeira (a nascente) da autoria do pintor Júlio Resende.
O painel mural é enorme (41x5 metros) tendo sido realizado em grés no ano de 1986, encomendado pela Câmara Municipal e realizado na Cerâmica do Fojo, em Gaia, pintado e gravado pelas mãos de Júlio Resende.
 
 
 
 

“Ribeira Negra” – Ed. JPortojo



Serviu de modelo ao painel mural, uma obra de pintura utilizando negro de fumo e óxido de zinco, também de Júlio Resende, cuja tela é em lona, formada por vários módulos (4x3 metros), perfazendo cerca de 40 metros, executada em dez dias, nas instalações da Cooperativa Árvore.
Seria oferecida à Câmara do Porto, que a manteve encaixotada até 2010.
Desde 6 de Novembro de 2010, encontra-se exposta no espaço museológico da Alfândega.
 
 
 

“A Ribeira Negra” na Alfândega do Porto – Ed. JPortojo


 
 
Sobre a Ribeira, dizia Júlio Resende:
 
“No ar, as vozes de praguejos, de risos, o inconformismo dos velhos, a alegria das crianças, a correria dos cachorros. As fachadas sempre em festa no espelhar dos azulejos”.
 
 
Júlio Martins Resende da Silva Dias nasceu no Porto em 23 de Outubro de 1917 e faleceu, em Valbom, Gondomar, em 21 de Setembro de 2011.
É da autoria de JPortojo a biografia de Júlio Resende que se segue:
 
 
“Em 1937 matriculou-se na Escola de Belas Artes do Porto. Por dificuldades financeiras, custeou as despesas do curso com a venda de trabalhos gráficos, como desenhos publicitários, ilustrações e banda desenhada. Esta faceta da sua carreira decorreu até aos anos 70. 
Provavelmente a rapaziada do meu tempo de menino ainda se lembrará do Calendário do Matulinho que se publicava no último domingo do ano no Jornal O Primeiro de Janeiro.
Iniciou a carreira docente em 1944 na Escola Industrial de Guimarães.
Em 1945 terminou a licenciatura em Pintura com o Quadro Os Fantoches, classificado em 18 valores.
Entre 1947 e 48 estudou em França, copiou os mestres da pintura no Louvre e outros Museus da Europa. Regressou a Portugal em 49 e ao ensino. Dedicou-se à cerâmica e o seu primeiro painel em 1952 foi para a Escola Gomes Teixeira, no Porto, onde leccionava. Em 1956 formou equipe com o arquitecto João Andresen e o escultor Barata Feyo que ganhou o concurso para o Monumento do Infante D. Henrique, em Sagres, mas cuja obra nunca se realizou por Salazar não gostar dela. 
Nesse ano terminou o curso de Ciências Pedagógicas na Universidade de Coimbra. Em 1958 foi convidado a dar aulas na Escola Superior de Belas Artes do Porto, que só abandonou em 1987.
Institui em 1993 a Fundação Júlio Resende, Lugar do Desenho, em Valbom, Gondomar”.





domingo, 30 de julho de 2017

(Continuação 20)



A Rua de Santos Pousada, que homenageia um distinto professor, chamou-se, antigamente, Rua de São Jerónimo.
Este topónimo tinha a sua raiz numa capelinha de invocação daquele santo, situada no local em que hoje faz esquina (lado Norte) as ruas Firmeza e de Santos Pousada.



Planta (1853) de Costa Lima Júnior. Legenda: 1 - Rua Firmeza; 2 - Rua de São Jerónimo; 3 - Capela de S. Jerónimo



A Rua de São Jerónimo começou por ser traçada, na década de 1830, entre o Poço das Patas e a Rua Firmeza, até ao adro da capela de São Jerónimo.
Quem primeiro aí construiu foi o Dr. Francisco Luís Correia que, para tal, solicita a respectiva licença camarária em 1835.
A partir de meados do século XIX, começa a rasgar-se a continuação do arruamento até à Póvoa de Cima. Em fins da década de 1870, ainda se procedia a expropriações para conclusão da empreitada.



“Santos Pousada, de seu nome completo António José Santos Pousada (1854-1912), foi professor na Escola Industrial de Vila Nova de Gaia e tornou-se paladino de uma causa nobre: tornar acessível a toda a gente a instrução pública, que, nos finais do século XIX, ainda parecia algo utópico.
Envolveu-se também nos ideais republicanos, apesar de só ter vivido 2 anos sob o signo da República. Foi este envolvimento que fez com que, em 1913, o regime recém-vencedor quisesse perpetuar o seu nome na toponímia do Porto.
Num guia da cidade de 1896, podemos ver que esta artéria nascia na Rua do Poço das Patas que foi também Rua do Meio (actual Rua de Coelho Neto) e ia até ao Largo da Póvoa (actual Praça da Rainha D. Amélia), vindo só posteriormente a ser prolongada até à Praça Teixeira de Pascoais”.
Fonte: “manueljosecunha.blogspot.pt”




Santos Pousada “(…) considerado um homem culto e trabalhador, que muito se empenhou na causa da implantação da República, em especial na região do Porto. Em 1904, Santos Pousada pertencia à comissão municipal republicana do Porto. Participou de forma activa nas campanhas contra a Monarquia e na organização do movimento republicano.
Foi ainda um dos propagandistas da mutualidade no norte de Portugal, tendo participado em inúmeras realizações. Foi relator de teses que abordavam a contabilidade e a escrituração das associações de socorros mútuos, no Congresso Regional que se realizou no Porto em 1904. Participou também de forma activa no Congresso Nacional da Mutualidade que se realizou em 1911, na Sociedade de Geografia de Lisboa. Neste congresso foi eleito vogal do Conselho Central da Federação Nacional das Associações de Socorros Mútuos e foi vice-presidente da Comissão Oficial de Reforma do Mutualismo, competindo-lhe a organização dos modelos de escrita que deviam acompanhar o novo modelo de reforma. 
António José dos Santos Pousada destacou-se como jornalista. Colaborou em diversos órgãos da imprensa republicana como Vanguarda, Voz da Beira, Voz da Justiça, Voz de Angola, O Alarme e A Democracia. Era correspondente do jornal República, em Espinho, terra onde vivia e era muito respeitado pela população. Foi ainda o fundador da obra beneficência O Vintém das Escolas.
Pertenceu à Maçonaria, desde 1885(…)”.
In Almanaque Republicano; Fonte: ruasdoporto.blogspot.pt




A antiga Rua de S. Crispim, junto à Ponte de S. Domingos, nas proximidades do ainda hoje, Largo de S. Domingos, desapareceu, quando na década de 1870, andava a ser aberta a Rua de Mouzinho da Silveira.
Na sequência desse arranjo urbanístico, foi demolida também a bonita capela de S. Crispim e S. Crispiniano onde a Confraria dos Sapateiros tinha a sua sede, bem como o anexo hospital e albergue de peregrinos existentes desde o século XIV e que se situavam na Rua das Congostas (actual Rua Mouzinho da Silveira, demolidos por ocasião (1874) para abertura daquela artéria. Assim, no ano de 1307, os irmãos, e cidadãos do Por­to, Martim Vicente Barreiros e João Anes Pal­meiro fundaram, "num largo acima da Rua das Congostas, junto ao rio da Vila", uma alberga­ria para peregrinos a que chamaram "dos Pal­meiras".




“A Capela de São Crispim e São Crispiniano, foi transferida e situa-se, desde então, ao cimo da Rua de Santos Pousada, no Bonfim, na cidade do Porto, pertença da mesma Confraria. Está dedicada a São Crispim e São Crispiniano e foi inaugurada em 1878 na Rua de S. Jerónimo, tendo esta, desde 1913, mudado para Rua de Santos Pousada.
S. Jerónimo deve a sua fama ao facto de, a pedido do Papa Dâmaso I, ter traduzido a Bíblia para latim, tradução essa que ainda hoje se usa, a chamada “Vulgata”. S. Jerónimo nasceu no norte de Itália em 374 e, ao longo da sua vida, foi um polemista notável e um opositor às diversas heterodoxias que iam surgindo.
O largo que fica diante da capela e que, na actualidade, tem a designação de Praça da Rainha D. Amélia, chamava-se, naquele tempo, Largo da Póvoa.
A palavra Póvoa, "popula" do latim, significa pequeno povoado. Como havia outra Póvoa, bem perto do actual Largo do Padrão, nas proximidades da Rua das Oliveirinhas, que antes se chamou Rua das Oliveiras, "junto à Póvoa de Baixo", lê-se num documento da paróquia de Santo Ildefonso do ano de 1757, a outra era designada por Póvoa de Cima para se diferenciar, naturalmente, da de baixo.
Quando se reconstruiu a capela de S. Crispim e S. Crispiniano no antiquíssimo Largo da Póvoa, a Municipalidade desse tempo resolveu mudar o nome ao largo que passou a chamar-se Largo de S. Crispim.
Recentemente, já nos nossos dias, voltaram a alterar a denominação ao dar ao largo em questão ao darem-lhe o nome da rainha D. Amélia de Orleães que foi a esposa de D. Carlos I.
A Rua Nova de S. Crispim anda, também, ligada à mudança da capela de junto de S. Domingos para o sítio onde agora está. Evoca o topónimo antigo que o urbanismo ribeirinho fez desaparecer.
Acerca deste assunto resta dizer que o topónimo Póvoa ainda subsiste naquela zona alta da cidade designando uma rua, uma travessa e uma calçada.
Uma confusão frequente é a que diz respeito à Rua da "Bateria", que por vezes é referida como "Rua da Bateria do Cativo". Essa Rua da Bateria, ou Bataria, como o povo diz, evoca uma bateria de artilharia que as tropas Liberais ali instalaram durante o Cerco do Porto (1832-1833).
Na planta das linhas (defensivas) elaborada pelo coronel de Engenharia, F.P.A. Moreira, mais conhecida pela "Planta de Arbués Moreira", esse local vem, efectivamente, designado como "Bateria do Cativo".
Ao contrário do que se chegou a pensar, esta designação nada tinha a ver com o sítio do Monte Cativo situado a uma considerável distância daquele local.
Aconteceu que a bateria foi colocada no ponto mais alto de uma quinta que, em tempos distantes, fora emprazada pela Câmara ao fidalgo Francisco de Sousa Cirne, cuja residência era o edifício onde hoje está a Junta de Freguesia do Bonfim. Este, por sua vez, em 30 de Agosto de 1730, sub emprazou a propriedade mais "uma parcela do prazo do Monte da Forca de Mijavelhas" a José Pereira e mulher.
Quando o terreno em causa começou a ser urbanizado estava na posse de Vicente Francisco Guimarães, por alcunha "o Cativo". Daí o nome dado à bateria da artilharia liberal que ali foi instalada durante o Cerco do Porto”.
Com a devida vénia a Germano Silva




Publicidade à Tipografia Peninsular na primitiva Rua de S. Crispim




A Tipografia e Papelaria Peninsular na Rua Mouzinho da Silveira – Fonte: Google maps




A Tipografia Peninsular como se vê na foto anterior estará bem próxima do seu lugar primitivo, na Rua de S. Crispim onde existiu a capela dedicada a S. Crispim. Ao cimo da Rua de S. João, e à entrada da Rua da Bainharia, pegado à capela ficava  o Hospital de S. Cris­pim, fundado em 1307 por Martim Vicen­te Barreiros e seu irmão João Anes Palmei­ro, ambos cidadãos do Porto. 
Funcionou, primeiro como albergaria para peregrinos e por isso se chamou dos Palmeiras, passando mais tarde a ser admi­nistrado pelos sapateiros, ficando depois disso a ser conhecido por Hospital de S. Cris­pim e S. Crispiniano, padroeiros dos fabri­cantes de calçado. Aliás, junto ao hospital havia uma capela dedicada aos santos protetores dos sapateiros. 
Quando se abriu a Rua de Mouzinho da Silveira (1875), o templo foi demolido e a irmandade de S. Crispim e S. Crispiniano reconstruiu-a no local onde agora se encontra. 




Capela de S. Crispim, actualmente




Hoje a capela está na Rua de Santos Pousada, paredes meias com a Praça Rainha D. Amélia.
Este último topónimo é o que resta da memória daquela personalidade.
Após a implantação da República a família real exilou-se no estrangeiro, e depois do casamento de D. Manuel II com Augusta Vitória Hohenzollern-Sigmaringen, D. Amélia, viúva de D. Carlos I, passou a viver no castelo de Bellevue perto de Versalhes. No fim da 2ª Grande Guerra, Salazar ofereceu-lhe asilo político em Portugal, mas ela permaneceu em França, embora com algumas visitas a Portugal.
Em 25 de Outubro de 1951 faleceu em França com 86 anos, mas, o seu corpo seria transladado para Portugal e, com funeral com Honras de Estado, seria sepultado na Igreja de S. Vicente de Fora no “Panteão Real da Dinastia de Bragança”.




D. Amélia em 1945 – Fonte: restosdecoleccao.blogspot.pt




Na foto acima D. Amélia numa visita ao Dispensário de Alcântara.
Para Norte e contíguo à Praça Rainha D. Amélia desenvolvia-se o sítio do Seixal, de que hoje resta o topónimo Rua do Seixal.




Praça Rainha D. Amélia, em 1960, no gaveto da Rua de S. Crispim com a Rua Coutinho de Azevedo

sábado, 29 de julho de 2017

(Continuação 19) - Actualização em 08/01/2019 e 08/04/2020




Em 1784, o presidente da Junta das Obras Públicas era João de Almada e Melo (1703-1786) que morreu dois anos depois, não tendo chega­do a assistir ao começo das obras do levantamento desta rua que, em 1805, já estava aberta.
O pró­prio filho de João de Almada, Francisco de Almada e Mendonça (1757-1804), que deu continui­dade a muitas obras começadas no tempo do pai, não viu o início do erguer das casas porque morreu, prematuramente, em 1804. 
A Junta das Obras Públicas tinha numa sessão de 1784, decidido, então, construir a Rua Nova de Santo António , em cuja acta se lia: 



“...entre o Bairro de Santo Ildefonso e o do Bonjardim, se deviam abrir duas ruas de comunicação entre estes dois bairros na forma da planta que se acha delineada sobre o plano extraído do terreno intermédio. Que a primeira dessas ruas deve principiar a sua abertura na frente do pátio da Igreja dos Congregados e seguir a sua direcção em linha recta a desembocar na frente da Igreja de Santo Ildefonso…cujo declive se suavizará alteando o seu pavimento do princípio dela, e rebaixando o que for necessário no seu fim”.



Por ter começado a ser construída "em frente ao pátio da igreja de Santo António dos Congregados" a rua começou por se chamar Rua de Santo António o Novo. Esta designação tinha razão de ser.
O “Novo” para não ser confundida com uma outra rua bem mais antiga, a de Rua de Santo António da Picaria.
Esta rua que se chamou antes Rua de Santo António dos Congregados ou Rua de Santo António o Novo, nome pelo qual ainda é conhecida, resultou então duma decisão de 1784, e seria construída sobre um conjunto de estacas e arcos, para dar passagem à mina do Bolhão e, também, para vencer o declive do terreno.
Na parte mais baixa da rua, ou seja, junto da embocadura com a Rua de Sá da Bandeira que, antes, era o prolongamento da Rua do Bon­jardim, foi montado um sistema de estaca­ria para facilitar o escoamento de um cano de água que, proveniente da mina do Bolhão (que vai mais à frente dar origem ao rio da Vila) se destina­va ao abastecimento do, entretanto, demo­lido mosteiro das monjas beneditinas de S. Bento de Ave Maria que ficava, onde agora está, a estação ferroviária de S. Bento.
Como é fácil de imaginar, tendo em con­ta a topografia do terreno, a construção da nova rua não foi tarefa fácil.
Por exemplo, os prédios que se construíram nos dois la­dos da rua têm a curiosidade de serem mais altos nas traseiras do que na parte da fren­te, por causa da profundidade a que tiveram de ser cavados os alicerces, devido ao desnível do terreno. Daí deriva uma outra curiosidade que é a existência por baixo desta artéria de quatro túneis, hoje pratica­mente impercetíveis. Devido ao acentua­do desnível que o terreno apresentava, quando a rua foi delineada, houve necessi­dade de erguer também, muros de suporte, e de pro­ceder a aterros para tornar a encosta mais suave.
Com a construção daqueles túneis, possibilitou-se a ligação da parte do lado da Rua da Madeira com o lado oposto, que comunicava com as traseiras do edifí­cio do Teatro de Sá da Bandeira e, daqui, com a Rua de Passos Manuel.
Os túneis já não são visíveis, mas é possí­vel, descendo a Rua da Madeira, apercebermo-nos dos sítios em que foram construí­dos.
Por exemplo: um desses locais serviu, durante muitos anos de depósito de máqui­nas industriais; noutro funcionou um ar­mazém de bananas; uma marca de águas minerais teve também o seu armazém num outro túnel; e no túnel que ficava mais perto do fim da rua, para quem a desce des­de a Praça da Batalha, funcionou um restau­rante.
É fácil identificar as entradas desses anti­gos túneis, porque apresentam a forma ar­redondada na parte superior comum a to­dos os túneis que se conhecem.
Os túneis existentes debaixo da Rua de 31 de Janeiro, durante a revolução de Feverei­ro de 1927 serviram para algumas famílias escaparem à artilharia da serra do Pilar. Os ornamentos com que vistosamente se or­namentava a rua em dias festivos eram também neles guardados até voltarem a ser utilizados.
O projeto inicial da nova artéria previa, ainda, que sensivelmente a meio, se construísse uma praceta.
Aí por 1851, o espaço onde esse logradouro devia ser construído ainda não tinha casas. Na altura, esse espaço tinha a forma de um quadrado e era guarnecido com parapeitos de pedra que permitiam ver, em baixo, de um lado, os quintais das casas da parte baixa da Rua de Sá da Bandei­ra e, do outro lado, a antiga Calçada da Te­resa, hoje Rua da Madeira e o pano da mu­ralha fernandina que descia da Batalha e li­mitava a cerca do convento das freiras.
A praceta não chegou a ser feita. 
A Rua Nova de Santo António passou a chamar-se finalmente, em 30 de Agosto de 1874, Rua de Santo António, dado o desaparecimento de Rua de Santo António da Picaria.
O topónimo "31 de Janeiro" vai acontecer, após a instituição da República em 1910, como uma homenagem à malograda revolução republicana daquele dia do ano de 1891.
Como nem todos estariam por dentro dos meandros da preparação de uma revolução, o “Novo Restaurante Recreativo” preparava a abertura para o dia 31 de Janeiro.




Anúncio da abertura do “Novo Restaurante Recreativo” marcada para o dia da revolução – Fonte: “Jornal do Porto” em 29 de Janeiro de 1891  


A Rua de Santo António ficaria, também, ligada a outra revolta importante ocorrida na cidade e que seria votada ao insucesso.
Entre 3 e 9 de Fevereiro de 1927, o Porto foi palco de uma rebelião militar liderada pelo general Sousa Dias.





À esquerda está o Convento de S. Bento da Ave-Maria



Na foto acima ainda podemos ver um troço da muralha Fernandina.
Este tramo da muralha, a Norte do convento, foi destruído juntamente com ele. 
À sua direita ficava a Viela da Madeira e a Calçada da Teresa, personagem desconhecida e que desencadeia polémica entre os historiadores. Já vimos referidos os nomes de Calçada de Santa Teresa, de Calçada de D. Teresa e Calçada da Teresa. Era a ligação a Cima de Vila, antes da construção da Rua Nova de Santo António. Junto da muralha de frente para os Congregados, ficava o Botequim do Frutuoso, um dos primeiros do Porto.



Rua da Madeira



A actual Rua da Madeira, antigas Calçada da Teresa e Viela da Madeira, observada do lado Nascente, na foto acima.
Antes da construção da Rua Nova de Santo António, era por ali que se fazia o trânsito de pessoas entre Cima de Vila e a Porta dos Carros.




Alçado (21 de Agosto de 1794) das fachadas a sul da Rua Nova de S. António, que principia do Obelisco para baixo, da autoria de António Pinto de Miranda – Fonte: AHMP
 

 
O arquitecto António Pinto de Miranda, autor do desenho acima, é também aquele que desenhou para a Câmara do Porto o alçado sul do edificado proposto para a Praça de Santo Ovídio.
A referência a um obelisco reportava a uma coluna arquitectónica colocada junto de igreja de Santo Ildefonso.
De significado ignoto e que, hoje, está recolhido em pátio interior desde a década de 1920, constituiria, talvez, uma memória da abertura da nova rua e onde, imponente cascata nela se montou no dia 24 de Junho de 1810.

 
 

Obelisco no adro da igreja de Santo Ildefonso
 
 
 
Sobre as dificuldades de construção dos prédios no terreno, nos dá conta o texto que se segue.
 
 
“A sua construção, como é fácil de imaginar, foi um tanto difícil devido à natureza ou topologia do local. Basta dizer que, os prédios nela erguidos têm mais andares para as traseiras do que para a frente, em vista da fundura em que os alicerces tiveram de ser cavados. Por esse motivo, foi a rua, em alguns pontos, assente em fortes arcadas de pedra que, por baixo, davam – e dão ainda- passagem de um para o outro lado. Na embocadura, teve de fazer-se uso de estacaria, por se espraiar até ali a chamada “mina do Bolhão” que abastecia de água o Convento de Ave-Maria”. 
O Tripeiro Série VI, Ano IV
 
 
 
Devido a todas as dificuldades surgidas em virtude do desnível do terreno, a rua só teve avanços decisivos no erguer do edificado, a partir de 1805, já depois da morte de Francisco de Almada e Mendonça.




Rua de Santo António antes de 1852



“Mais uma curiosidade da Rua de 31 de Ja­neiro. Na frontaria do prédio com o núme­ro 230 existiu até há relativamente pouco tempo uma argola de ferro. Para prender os cavalos dos clientes da casa, julgava muita boa gente. Mas não. Nos baixos do edifício funcionava, nos finais do século XIX, um estabelecimento do Miguel Toucinheiro que todas as manhãs trazia com ele "uma linda e asseada jumenta" que prendia na re­ferida argola e cujo leite era vendido ali ao público interessado”.
Autor desconhecido


Rua de Santo António, c. 1905







Tabacaria Africana (antes de 1910) ao cimo da Rua de Santo António



Olhar sobre a Praça da Batalha após 1910, pois a placa toponímica fixada na Tabacaria Africana indica a Rua 31 de Janeiro – Ed. Alvão



Tabacaria Africana com perspectiva sobre a Rua de 31 de Janeiro



Tabacaria Africana após 1952 quando a fachada metálica foi substituída pela desta foto


Mesma perspectiva da foto anterior da Tabacaria Africana actualmente – Fonte: Google maps


“Tabacaria Africana – esquina da Rua de Santo António e Praça da Batalha – Pertenceu a António de Almeida Campos até 1902 e foi trespassada a Alberto Vieira da Cruz. Além de vender todos os artigos ligados ao tabaco, editava lindíssimos postais de costumes portugueses.
Infelizmente a rica frontaria foi destruída há poucos anos”.
In portoarc.blogspot.pt 




Pegado à Tabacaria Africana, na direcção da Praça da Batalha, esteve a Tabacaria Trindade, pertencente a Arnaldo Trindade e a Januário Trindade, avô e pai, respectivamente, do editor discográfico, Arnaldo Trindade.
A Tabacaria Trindade era importadora de charutos havanos e cigarros ingleses da Rothman, além de artigos de Carnaval, uma espécie de clube de clientes brasileiros.
 
 
 
 

Casa Fígaro e Tabacaria Trindade, c. 1900 – Ed. Foto Guedes
 
 
 
 
Na foto acima, é observável a fachada do edifício da Casa Fígaro (cabeleireiro, calista e perfumaria de homem e mulher) e da Tabacaria de A. Trindade & C.ª Sucessores, na Praça da Batalha, 141-143. À direita aparecia a Tabacaria Africana.
No lugar do prédio parcialmente visível, à esquerda, haveria de surgir um novo edifício, onde se instalou o Café Chave D’Ouro, em 1920.

 
 

Tabacaria Trindade, à esquerda





Rua de Santo António em 1904



Na foto acima de 1904, o edifício na esquina, à direita, ainda não tem a fachada característica da Ourivesaria Reis.





Rua de Santo António, em 1905


No mesmo local, c. 1910, onde na foto acima passava um carro eléctrico desliza, agora, um carro de bois






Rua de Santo António - Ed. Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa



A foto acima é de 1925 e nela se vê que os veículos ainda circulam “à inglesa”, pois a circulação pela direita só se verifica a partir de 1 de Junho de 1928.
Conjuntamente com a Rua dos Clérigos e a Praça de D. Pedro, depois, da Liberdade, a Rua de Santo António/31 de Janeiro, ganhou foros de excelência. Era a artéria onde imperavam os luveiros, as alfaiatarias e os cabeleireiros da moda.
O texto seguinte dá-nos uma ideia da vida comercial que se vivia na rua.


Nos meados do século XIX havia no Porto sete estabelecimentos que vendiam luvas, quando estas constituíam um adereço quase obrigatório do vestuário. Estavam todos na rua então chamada de Santo António. A avaliar pelos nomes dos proprietários, cinco dessas lojas pertenciam a franceses (Bernard, Fresquet, Loubié, Martel e Bénard), um espanhol, Vicent e uma portuguesa, Maria Martins.
Um dos mais célebres estabelecimentos que funcionaram nesta rua foi a Casa Prud'homme uma "mercearia fina" pertencente, claro, a um cidadão francês. Neste estabelecimento vendiam-se os melhores queijos do país de origem do dono, bem como os mais apreciados champanhes. Era frequentado pela melhor sociedade portuense daquele tempo, como o presidente da câmara Oliveira Monteiro, o médico Ricardo Jorge, ou o escritor Camilo Castelo Branco”.
Fonte: “pt.wikipedia.org”




Vicent (antes) uma loja emblemática




Vicent no nº 174 (depois) 



Antes do Vicent esteve aqui a Ourivesaria Miranda & Filhos



Casa de Banhos



Na Rua de Santo António, existiu uma famosa casa de banhos que recebia água do manancial de Camões, conduzida por mina construída propositadamente. Foi fechada em 27/9/1909. 
Era esta, uma rua tradicional neste ramo de negócio, pois, em 27 de Julho de 1854, era dado conhecimento, em anúncio no jornal “O Porto e a Carta”, da oferta de banhos quentes.

 “…de banhos na R. de Santo António, que a partir do dia 15 vão ter “água do mar quente”.


E, em 14 de Fevereiro, já estava concluído um novo encanamento, como dá conta a notícia seguinte:


“Jantar: a Sociedade do Estabelecimento dos Banhos, na rua de Santo António, tendo concluído o encanamento da água da bica, deu ontem um lauto jantar. Pode dar agora mais de 200 banhos por dia.
In “O Porto e a Carta”, 15 de Fevereiro de 1859, p. 2



A esta casa de Banhos se refere Camilo Castelo Branco no romance “A Brasileira de Prazins, nos seguintes termos:


“O autor teve relações muito saudosas com este venerando sacerdote, que em 1851 residia num antigo casarão da Rua de Santo António, que depois se transformou em casa de banhos. Por esse tempo, se congregavam ali os homens eminentes, por inteligência e haveres, do partido realista. Neste ano, padre Luís de Sousa passava os seus dias rodeado de pergaminhos, imobilizado numa poltrona, gemendo as dores da gota. Morreu muito pobre e muito desamparado”. 


Segundo Camilo em 1851 a casa aí existente era a morada do padre Luís de Sousa, que era correspondente no Porto do exilado D. Miguel.



Mesmo local da foto anterior - In site Monumentos Desaparecidos



Em fins do século XIX existia nesta rua uma chapelaria chamada “Chapéu Elegante” cujo dono, em 1895, começou a adoptar o sistema de preço fixo nos seus artigos.
No dia 2 de Março de 1905, abriu a “Joalharia Miranda, Filhos & Duarte”, cujas instalações se impunham pelo seu gosto artístico. A fachada que ainda hoje, felizmente, pode ser vista, é de ferro fundido estilo Luís XV.
O termo portuense  “isso é bera!” pretendendo depreciar alguém ou alguma coisa radica no facto de ter existido na Rua de Santo António, uma loja que vendia joias falsas e que se chamava “Bera Diamond Palace”. Durante alguns anos foi um sucesso comercial. Pertenceu a uma estrangeira chamada Bera.
Por fim uma referência à “Farmácia Central”.



Publicidade à Farmácia Central



O hipotético Mr. Lencart, “prestigioso farmaceutico parisiense”, não era senão o inteligente Sr. Álvaro Salgado, dono da Farmácia Central, no nº 203, e que LENCART era um anagrama de CENTRAL. A verdade é que deve ter vendido milhares e milhares de caixas de rebuçados e de pomitos, um creme para todas as ocasiões.




Ourivesaria Machado que antes esteve na Rua do Loureiro



O mesmo local, antes e depois da abertura da Rua Sá da Bandeira (à esquerda)



Em frente está a Rua Sá da Bandeira



Na foto anterior, a confeitaria Palace em 1930, no gaveto das Ruas de Sá da Bandeira e de Santo António.



Ourivesaria e Joalharia Âncora em 1960



Esta importante rua da baixa portuense haveria de ser o palco principal da “Revolta de 31 de Janeiro de 1891”, o primeiro movimento revolucionário que teve por objectivo a implantação do regime republicano em Portugal.
A revolta teve, então, lugar na cidade do Porto e teve esta rua em plano de destaque.
Esta malograda revolta acabaria por ser um ensaio para o derrube da monarquia, que aconteceria 19 anos depois.
Em 1910, os republicanos recordando aquele dia de 1891, deram à rua o topónimo de  “Rua 31 de Janeiro”, mas, em 1940, a C.M.P. repôs o anterior topónimo de Rua de Santo António. Por fim, após a revolução de 25 de Abril, voltou a chamar-se Rua de 31 de Janeiro.
A Rua de Santo António ficaria também ligada a outra revolta importante ocorrida na cidade e que seria votada ao insucesso.
Entre 3 e 9 de Fevereiro de 1927, o Porto foi palco de uma rebelião militar liderada pelo general Sousa Dias. Foi a primeira tentativa consequente de derrube da Ditadura Nacional que então se consolidava em Portugal, na sequência do golpe de 28 de Maio de 1926.
A intentona terminou com a rendição e prisão dos revoltosos e saldou-se em cerca de 80 mortos e 360 feridos no Porto e deu início ao período chamado “ O Reviralho”.